28 de março de 2008

Surdo depois do show

Curiosidade...

Fim de show, todo mundo suado, aquele monte de camisa preta fedorenta, etc. (e se disser “todo mundo rouco e sem voz”, apanha!). Chegando em casa, uma vontade louca de ir dormir, e após o banho (item importante depois de um show de metal), colocamos a cabeça no travesseiro e vem aquele som inconfundível... Um zumbido infinito, baixinho e muito chato que nos acompanha até que Morpheus nos leve de vez para a terra dos sonhos. O pior é que com esse zumbido, Morpheus tem um trabalho dos diabos. MUITO CHATO, PÁRA! COISA IRRITANTE! POR QUÊ??? O QUE EU FIZ PRA MERECER ISSO?!!!!

Eu digo: você expôs suas delicadas orelhinhas a níveis muito elevados de ruído. O ouvido humano é capaz de suportar sons de 0 a 90 dB, acima disso os sons começam a ficar desconfortáveis e dolorosos; acima de 130 dB os sons podem ser lesivos e destrutivos. Alguns shows de rock chegam a ter 120 dB de ruído (ruído não, de música,... sua velha).

Após a longa exposição a estes sons estonteantes, temos uma “alteração temporária do limiar auditivo”, ou seja, ficamos um pouquinho surdos, temporariamente. E junto com a surdez vem o zumbido.

Isso ocorre porque a forte vibração sonora provoca pequenas lesões nas células (e na região onde estas se encontram) responsáveis por transformar o som em estímulo nervoso para o cérebro. Estas lesões são reversíveis, mas se o indivíduo resolve que vai viver exposto ao ruído intenso, sem nenhum tipo de proteção, aí, em longo prazo, ele pode passar a ter uma perda auditiva permanente (PAIR – perda auditiva induzida por ruído). Vejamos a ilustração abaixo:









Quem vai ganhar? uuuuhh...


(Não, eu não sou endorser da Marshall)

O “piiiiiiiiiiiiiiiii” que ficamos ouvindo após o show também é causado por estas pequenas lesões causadas pelo volume alto da música. (como exatamente, fico te devendo, ainda estou pesquisando).

Tá, mas e daí? É pra eu parar de ir aos shows?

NÃO. Essa perda auditiva temporária passa depois de no máximo 14 horas (zumbido e perda auditiva). Prejudicial é se expor com freqüência a ruídos intensos (avise seu baterista e guitarrista. Eles adoram “ruído intenso”).

Colocar protetores de ouvido para ir a um show, é válido. Esses protetores costumam abafar algumas freqüências mais do que outras e isso distorce o som. Mas show de metal costuma ser muito alto mesmo, então vale a pena perder um pouquinho só da qualidade do som se eu vou ter maior conforto durante e, principalmente, após o show. O algodãozinho alivia, mas não resolve, e me parece que abafa ainda mais o som (mas eu não me importo). Se você trabalha em casas de shows, ou lugares com ruído intenso, consulte um audiologista para saber qual o tipo ideal de protetores para você.






"If it´s too loud, You're too old"
(detesto essa frase)



Glossário

dB: é uma medida de intensidade do som, assim como existem metros, quilos... A quem interessar possa, no texto usei referências em dB NPS (nível de pressão sonora).

17 de março de 2008

Fisiologia Vocal – parte 3 de ...

Timbres


Voz é como aquela outra parte do corpo, cada um tem a sua. Pra entender porque a mesma nota musical soa diferente se cantada por mim ou pela Angela Grossow, precisamos relembrar um pouco das aulas de física acústica (ai... medo).

O som é produzido pelas pregas vocais. Já começa por aí: algumas pessoas têm pregas vocais maiores ou menores (tamanho É documento! haha), algumas estão gripadas, outras têm alguma coisinha diferente (defeitinhos como sulco vocal, pólipo vocal, nódulos), etc. etc. etc.

O som produzido pela vibração das pregas vocais não é uma freqüência pura (como as ondas que estudamos na escola). Na verdade, são várias ondas juntas sendo uma a freqüência fundamental (por exemplo, o ré2) e as outras sendo os harmônicos (ré 3, ré1,...). Podemos dizer que estes harmônicos são ondas de várias freqüências "derivadas" desta primeira. (os físicos que me desculpem, mas estou tentando explicar de maneira mais fácil).

Como eu havia dito em "fisiologia vocal - parte 1 de...", o som é amplificado (fica mais forte) e modificado pelo resto do trato vocal: laringe, faringe, cavidades nasais e orais, etc. E é aí que as vozes tornam-se realmente diferentes. Essas estruturas do trato vocal podem ser consideradas “caixas de ressonância”.

Os harmônicos mais graves serão mais valorizados se as caixas de ressonância forem maiores, ou seja, as freqüências mais graves da voz serão mais amplificadas que as freqüências mais agudas.

Exercício: emitindo uma nota sol2, faça um "bocejo" e o som vai parecer mais grave. Depois faça esta mesma nota com os dentes travados e dizendo um "i", e a nota parecerá mais aguda. No bocejo nós abrimos bem a boca, a faringe e a laringe se dilatam e temos uma grande caixa de ressonância, com paredes musculares relaxadas.

Ao contrário do bocejo, no “i”, deixamos a boca com um espaço pequeno, o espaço dentro da laringe e faringe estará menor e portanto, as caixas de ressonância estarão pequenas e as freqüências mais agudas da voz, serão mais amplificadas do que as graves. A voz então parece mais aguda.

Nos três parágrafos anteriores, estamos falando de timbre. Considerando uma mesma nota fundamental (o sol2) que soam de forma diferente, estamos falando de timbres diferentes. O “dó” do piano é diferente do “dó” do violão porque eles têm timbres diferentes. E finalmente, o meu “dó” soa diferente da Angela Grossow por que nós temos timbres diferentes. E são diferentes porque a garganta dela é diferente da minha (caixas de ressonância), o modo como ela aprendeu a falar é diferente do meu (cultural) e a conta bancária dela é diferente da minha (aulas de canto para aprender a usar as caixas de ressonância).

Glossário:

- Sol 2, Ré1, Ré 2: Os números representam as diferentes oitavas. O Ré 1 é um som mais grave (grosso) do que ´ré2. Considere o dó3, o dó central do piano.

- Trato vocal: é o caminho por onde a voz vai passar e se transformar.

- Caixa de Ressonância: é uma caixa acústica que irá amplificar e modificar o som.

- Ressonância: pergunte pra algum professor de física ou pra wikipedia. Eu levaria um tempo pra explicar isso por escrito.


Em breve: "como a ressonância funciona no heavy metal”.